Convivendo com nossos idosos

O tempo passa e com ele vão surgindo algumas rugas, uma dificuldade maior de locomoção, e órgãos vitais vão demonstrando o cansaço trazido pelos anos.

A memória vai apresentando deficiências, a assimilação das novas coisas vai se tornando difícil, as atividades diárias vão apresentando um peso maior, e aqueles a quem sempre vimos como pilares de sustentação, começam a inverter os papéis.

Um novo momento de infância começa a surgir com a velhice. Pequenos afetos e gestos de carinho anteriormente desnecessários se tornam fundamentais. Cada atenção, cada cuidado se torna algo de grande importância.

Traços da personalidade que antes eram sutis, tornam-se cada vez mais marcantes e intensificados. A teimosia de uma criança, no corpo, mente e cabeça de um adulto.

Enfim, é nesse momento onde famílias se desestruturam, se entregam a sofrimentos, se desesperam na busca de soluções, e se veem diante da insistente pergunta: o que fazer?

É claro que não tenho essa resposta. Afinal, como insisto em repetir, algumas das nossas principais respostas são individuais e únicas a cada um de nós, e só podem ser encontradas dentro de nós mesmos.

Porém, tenho encontrado as minhas próprias respostas e ao ver tantas pessoas com problemas tão mais simples e menos dolorosos, sofrerem e se desesperarem, achei interessante falar um pouco sobre essa situação, no intuito de tentar mostrar que existem caminhos e olhares que transformam todas as situações.

Nossos idosos são a representação de todo o caminho da nossa vida. São nossas maiores lembranças de amor, carinho e a eles “pertencem” parte do que somos.

Sei que existem nessa relação muitas diferenças entre as famílias. Em algumas talvez tenha faltado afeto, diálogo, respeito, carinho e sei que isso torna as coisas mais difíceis nesse momento onde “nosso idoso” requer cuidados, atenção e tudo o mais que nos deu, ou não, durante nossa vida.

Mas, no meu caso, hoje, apenas retribuo aquilo que aprendi, vivi e senti na nossa relação. Amor, carinho, serenidade, busca pelo equilíbrio, confiança e respeito. Coisas que hoje, se estendem não somente aos “meus idosos”, mas também a todos os “nossos”.

Enfim, seja em retribuição ao recebido ou não, o que pretendo ressaltar é, a importância de como vemos, vivemos e acompanhamos essa fase a qual provavelmente chegaremos também.

Equilíbrio. Vejo como o primeiro e mais importante. É preciso nos mantermos equilibrados diante de qualquer dificuldade para que possamos enxergar com clareza as melhores atitudes.

Carinho. Para que nossos gestos sejam acompanhados daquilo que lhes conforta e como retorno nos preenche o coração.

Amor. Para que possamos “abrir mão” quando necessário.

Respeito. Porque somente reconhecendo a importância e direito deles, teremos conquistado a nossa própria importância e direitos.

Aceitação. Aceitar o que não pode ser mudado. Talvez as coisas não aconteçam como forma de punição, mas sim de aceitação, aprendizado, e oportunidades de tentativas em fazer o melhor, dentro do melhor possível.

Harmonia. Para que possamos ter a identificação de que somos seres individuais, que nos ajudamos, partilhamos, mas somos individuais. Não podemos em momento algum nos esquecermos do nosso individual, porque a sustentação dele é ponto fundamental para que possamos ajudar e transmitir o nosso melhor a esses tão queridos idosos sem prejudicar aos demais que fazem parte da nossa vida.

Precisamos sempre buscar o melhor para nós mesmos, porque somente tendo “o melhor” conosco, poderemos partilhá-lo.

Não temos o poder das grandes decisões, mas temos sim o poder de fazer o melhor sempre.

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